domingo, 16 de novembro de 2014

Preservação da água e manutenção da vida

Sopa primordial, aproximadamente 4 bilhões de anos atrás. Descargas elétricas altíssimas vindas de raios, elevadas temperaturas devido a frequentes erupções vulcânicas, elementos químicos sendo despejados na superfície terrestre através dos alquimistas cósmicos, as estrelas. No líquido vital e primitivo, elementos simples se fundiram, moléculas foram formadas e se uniram dando origem a compostos orgânicos, como os aminoácidos, essenciais para a formação de ácidos nucleicos e proteínas. Todos esses componentes deram início a vida primitiva na presença de um ingrediente fundamental: a água. Se você não acredita nesta teoria e acha que a origem da vida dependeu de outros fatores, não precisa ir muito longe do seu cotidiano para saber que a água é muito importante para a sobrevivência humana. Não é só o fato de o corpo humano ser composto por 70% de água que fortalece essa premissa. Se você não concorda que somos organismos que viemos primordialmente da água, basta olhar para as suas atividades diárias e ver que sem água você não viveria. Até uma simples blusa necessita de litros d’água para ser fabricada. Talvez você diga que roupas não são essenciais para a sobrevivência, mas sabe que a alimentação é. Todo e qualquer alimento, seja ele orgânico ou industrializado, depende de água para ser fabricado. A nossa higiene depende da água. A comida que consumimos depende de água para ser plantada, transportada, lavada e cozida. A matéria-prima para a fabricação de diversos produtos que adquirimos necessita de água. Aliás, a água é insumo para uma infinidade de fabricados. A indústria precisa de água para a produção de mercadorias, até o pneu do seu carro depende da água para ser fabricado. E, mesmo assim, o que nota-se é um desperdício quase que generalizado. A pergunta que me atormenta é a seguinte: por quê? Por qual motivo jogamos fora tantos litros desse líquido vital todos os dias? Negligência? Hábitos cristalizados? O que faz com que tantos seres humanos, mesmo sabendo da importância de tal líquido para a sobrevivência, o desperdicem com tanta naturalidade?
 Não conheço outros países, mas não é preciso ir tão longe para observar o desperdício. O Brasil possui uma abundância preciosa de água e mesmo assim milhares de brasileiros fazem uso excessivo e indiscriminado do fluido. Será que tal abundância é o motivo da prática agressiva ao meio ambiente? Talvez seja. Tendemos a desvalorizar o que possuímos em excesso. Sabemos que, mesmo com a confusão governamental na questão do precário abastecimento de água, possuímos o líquido em quantidade suficiente para todos os habitantes do país. Porém, não escapamos da lógica de escassez futura. A seca no Sudeste que presenciamos seja pessoalmente ou via noticiários, por mais que seja decorrente de fenômenos meteorológicos incomuns, tem seu lugar na enorme lista de consequências da exploração indevida do solo e da degradação frequente do meio ambiente. O desmatamento da Amazônia pode ser apontado como uma das causas para a seca. A chuva que o Sudeste recebe é oriunda da umidade vinda da Floresta Amazônica. Sem árvores, sem umidade. Sem umidade, sem chuvas. Sem chuvas, sem abastecimento de represas. Sem o abastecimento, sem água nas casas. É um ciclo. E o ciclo hidrológico, por sua vez, com sua simetria quase perfeita, está sendo corrompido por ações humanas. A criação de gado é um dos motivos pelos quais a floresta é desmatada. Além disso, podemos citar o cultivo de soja e a ocupação populacional. A floresta que é considerada simbolicamente como o pulmão do mundo é, na verdade, o chuveiro que banha as regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil, ajudando a manter o nível dos reservatórios em condições favoráveis a habitação humana. Mesmo com todo esse potencial e relevância para a vida, está sendo destruída aos poucos.
                Mas não é só o desmatamento da Amazônia que prejudica o Sudeste atualmente e pode prejudicar futuramente. A derrubada de matas ciliares -árvores ribeirinhas que protegem os rios assim como os cílios protegem os olhos- contribui para a grave seca que a região enfrenta. Ora, as matas ciliares ajudam a evitar o assoreamento dos rios, além de contribuírem para a manutenção da umidade da região. Sem matas ciliares, os rios assoreiam e perdem gradualmente sua capacidade de armazenamento, e isso, é claro, afeta o cotidiano da população. Fugindo um pouco dos problemas humanos, não posso deixar de fazer a ressalva de que as matas ciliares possuem o papel de “corredores” para os animais silvestres, onde estes a utilizam para encontrar alimentos e acasalar. Portanto, além do papel protetor dos rios, as matas ciliares são fatores fundamentais para a conservação da biodiversidade. Voltando a questão da água, em São Paulo por exemplo, onde a crise hídrica foi mais agravante, temos o exemplo de matas ciliares devastadas por causa da construção de condomínios e áreas habitacionais do gênero. Além do problema de superlotação que a grande São Paulo enfrenta, o que força a busca por áreas mais afastadas das centrais, os interesses econômicos e especulativos dos empresários são relevantes causas para tal degradação do meio ambiente. Falta bom senso. Mas além disso, falta fiscalização governamental e políticas que atuem na preservação de tais locais, visto que os rios presentes neles são fundamentais para a vida nas cidades.
                Diante de tal cenário quase que devastador e do pesadelo de escassez futura, a solução mais viável para esse tipo de problema ambiental é o reflorestamento. É possível recuperar as matas ciliares de São Paulo, e também a floresta Amazônica, através do plantio de árvores. Isso demanda dinheiro, mas uma quantia insignificante diante do gasto futuro com caminhões-pipa ou multas nas contas de água. A solução é simples, mas precisa de tempo. Estima-se que em São Paulo demore no mínimo 100 anos –em condições mais pessimistas, 200 anos-  para que uma recuperação seja atingida. É um investimento de longo prazo, mas imprescindível para o bem da natureza e para os níveis de precipitação que tanto são importantes para a vida. Com o plantio de árvores, a umidade começa a voltar aos níveis normais e, consequentemente, as chuvas passam a ter a frequência natural em cada região.
O paradoxo começa a tomar forma quando nos direcionamos aos hábitos populacionais. Não adianta reflorestar as áreas devastadas e voltar os reservatórios aos níveis normais se a população não se conscientizar. No meu dia-a-dia vejo cenas que gostaria que fossem surreais, mas não são. Infelizmente, muitas pessoas ainda possuem a mentalidade do “vi no jornal, mas isso não chega até mim” ou “vou morrer logo, não preciso me preocupar com isso” ou “a água do mundo não vai acabar, olha a quantidade que existe nos oceanos”. Além da ignorância –imperdoável, pois a maioria possui veículos de mídia em casa e conhece a realidade-, é notável um egoísmo quase que intrínseco ao caráter humano. Não pensar nas próximas gerações é como querer a extinção da própria espécie. É uma forma de suicídio adiado. Além disso, considerar a água do mar como “potável” é no mínimo burrice. Não vou descartar a prática de dessalinização das águas oceânicas pois muitos países adotaram tal medida, mas é um método caro. E mais: se num futuro, talvez próximo, utilizarmos água do mar para atender nossas necessidades, vamos afetar ecossistemas marinhos e isso pode gerar um efeito “bola de neve” catastrófico. Imagine suprir oito bilhões de pessoas (no futuro esse número será bem maior) com água do mar! Diversos animais marinhos irão morrer e, possivelmente, algas também. Não posso deixar de citar que grande parte do oxigênio que respiramos provém das algas. Elas retiram gás carbônico da atmosfera para transformar em oxigênio, em um processo conhecido como fotossíntese. Com menos algas, menos oxigênio e mais gás carbônico, que é um gás estufa e esquenta a atmosfera terrestre. Ou seja, utilizar águas oceânicas seria o primeiro dominó derrubado de uma série de outros dominós enfileirados. Os indivíduos egoístas ou os que utilizam o argumento da dessalinização da água como solução precisam, mais do que nunca, mudar de conduta. E os que já são conscientes, precisam ser mais ainda.
                A maior dificuldade em escrever sobre a água e seu desperdício consiste no fato de que somos feitos dela e, portanto, estamos nos matando aos poucos. Mas essa dificuldade deve ser considerada como motivação para nos conscientizarmos e agirmos em prol de nossa sobrevivência. A verdade é que o planeta sobrevive muito bem sem a gente, mesmo com todos os estragos que andamos fazendo durante esses milhares de anos de exploração planetária, mas nós não vivemos sem ele. É por isso que devemos preservar enquanto temos nossos recursos. Somos água, viemos dela e dependemos dela. Acabar com ela é acabar com nós mesmos. Como Tales de Mileto, considerado o primeiro filósofo da história, dizia: “Tudo é água”. Tirando a ideia de universalidade em sua filosofia primordial e trazendo tal frase ao contexto atual, vemos que Tales não estava tão errado e que as coisas não mudaram muito do século VI a.C até os dias de hoje. Enquanto existir vida, a água sempre será tudo. E o papel dessa geração é resgatar o que foi perdido no passado e preservar o que existe no presente para que o futuro das gerações seguintes não seja repleto de guerras por água ou marque o fim prematuro da espécie humana.

Referências
Reportagens:

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Consciência ambiental: fato contemporâneo ou estratégia de marketing?

“Vivemos em tempos de consciência ecológica”, este é o pensamento que a mídia e milhares de pessoas fazem questão de difundir pelo mundo neste início de século XXI. Mas será mesmo que estamos vivenciando uma modificação brusca em nossos valores ou será que esses tempos de consciência ambiental são meras estratégias usadas para vender produtos e amenizar a culpa do homem no processo de destruição do planeta? Penso que a todo instante estamos sujeitos a uma “auto-justificação” quase que inconsciente que faz com que precisemos encontrar maneiras de explicar o que se choca de alguma forma com a nossa moral. A destruição do planeta por ação antrópica é um assunto que aparece direta ou indiretamente em veículos de mídia com o intuito de conscientizar a população. A comunicação é um grande difusor de ideias e as informações circulam a todo tempo. Assim, nos dias de hoje, os indivíduos aprendem desde a infância que não devem jogar lixo no chão e que cortar árvores prejudica a natureza, por exemplo. Os valores, então, teoricamente, são passados de geração em geração e cada vez mais sabemos o mal que causamos e o que devemos fazer para conter esse mal. Ou seja, todos os valores que adquirimos ao longo da vida nos levam a considerar atos contrários a eles como imorais. Isso, de fato, não é algo ruim, pois possibilita que os indivíduos passem a adotar gradativamente atitudes que retardem o processo de destruição planetária. O problema é quando essa possível preocupação global, carinhosamente nomeada como “consciência ecológica”, vira objeto de marketing. O chamado Green Marketing, ou Marketing Verde, consiste em um método de comercialização sustentável, ou seja, que atende às necessidades humanas causando poucos danos –ou nenhum- ao meio ambiente. A ideia é boa e aplicável, visto que possuímos conhecimento e recursos suficientes para concluí-la de modo efetivo. Contudo, o que podemos notar é que empresas e corporações estão se aproveitando deste “mercado consumidor consciente”. A publicidade, braço direito do consumismo do século XXI, tem um papel fundamental nessa trapaça capitalista bem articulada. Somos bombardeados o tempo inteiro, seja nas ruas ou no meio virtual, por propagandas que visam enaltecer a qualidade de determinado produto, afinal, essa é a função da propaganda. Dentre essas propagandas, podemos notar que muitas utilizam slogans falsos acompanhados -ou não- de elementos não-verbais que remetem a preservação ambiental. O consumidor, dessa forma, se sente atraído pelo produto com a intenção de ajudar o planeta e é enganado por tais dizeres. Nesse sentido, acho que há uma falta de fiscalização da publicidade. Uma pesquisa recente mostra que 37% dos brasileiros pagariam mais caro por produtos verdes, isto é, produtos que se dizem sustentáveis. As empresas, não só as brasileiras como as do resto do mundo, já notaram esse crescente desejo da população em ajudar no retardamento dos prejuízos ambientais e utilizam tal desejo para lucrar, fazendo uso de informações falsas para ganhar público consumidor. Não há nada de errado com a proposta do Marketing Verde no plano teórico, mas é nítido que há falhas gritantes no âmbito prático. Além de haver esse problema da fiscalização de produtos “mentirosos”, há ainda aqueles com dizeres verdadeiros, mas de difícil acesso. Ora, sabemos que produtos verdes possuem um custo maior em relação aos convencionais e, portanto, provavelmente esses 37% que responderam à pesquisa dizendo que estão dispostos a pagar por tais produtos são pessoas que possuem um poder aquisitivo que proporcione isso, o que não concorda com a situação financeira de milhões de brasileiros. Um exemplo que me veio à mente é o dos lápis da Faber-Castell. Quando eu estava no Ensino Fundamental, a escola solicitava a compra de lápis de cor para as atividades escolares. Lembro-me bem que os lápis da Faber-Castell eram, e ainda são, feitos com madeira de reflorestamento, pois a empresa possui uma área florestal própria para a fabricação de seus produtos. O custo destes lápis é consideravelmente maior do que o de outros não-sustentáveis. Retirando questões como qualidade do produto, podemos perceber nitidamente que quem não tem condições para pagar por mercadorias ditas ecologicamente corretas, optará pelas que não atendem a esse quesito. Portanto, considerando uma escala mundial, somente a minoria estaria disposta a pagar mais por esse tipo de produto, visto que somente esta possui poder aquisitivo para tal e, assim, a proposta de “preservação através de produtos sustentáveis” torna-se praticamente vã. Ainda há, no Marketing Verde, outra problemática: a falta de informação. Tenho uma concepção de que o conhecimento é um bem libertador incapaz de ser roubado. Partindo por essa lógica, a ignorância, em contrapartida, é um aprisionamento da mente. Não adianta disponibilizar no mercado produtos cujos benefícios não são conhecidos por grande parte da população. Assim sendo, podemos destacar os lados negativos do Green Marketing em três pontos: falta de fiscalização da publicidade, custo/benefício deficitário e falha na propagação de conhecimentos acerca das benfeitorias que determinados produtos promovem. É claro que esses três pontos não desqualificam a essência da proposta. Produtos fabricados com materiais biodegradáveis e feitos a partir de energia renovável devem ser sim aumentados nas prateleiras. O que quero frisar é que tais produtos devem ser de fácil acesso econômico, para que seu uso torne-se cada vez mais freqüente. Também friso que os fabricantes, por sua vez, devem ser honestos para com o consumidor. Mas enquanto isso ainda não é uma realidade, e como o nome deste blog já sugere que utopias devem ser contidas, o que devemos fazer é buscar formas de filtrar os dizeres das propagandas e procurar nas embalagens os chamados Selos Verdes, que são selos emitidos por entidades comprometidas a fiscalizar a veracidade da sustentabilidade do produto. Não posso dizer que a consciência ecológica é um marco importante e extraordinário em nosso século, pois se ela realmente existe é porque há um problema por trás que torna a sua existência possível. Eu, em minhas convicções, não vejo nada de extraordinário na destruição contínua que promovemos ao planeta. A transmissão de valores sustentáveis, por mais que lenta, está sendo aplicada. Porém, não posso dizer o mesmo das atitudes. O que vejo atualmente é que a maioria das pessoas, mesmo tendo em suas vidas a preservação planetária como questão moral, não transpõe a teoria para a prática. Assim, esta maioria pode ser considerada como imoral nesse aspecto, o que confronta com o conceito de “consciência ecológica”, visto que se somos imorais não podemos ser conscientes de forma efetiva e prática no campo ambiental. Usar esse conceito para se promover economicamente ou justificar uma falha na nossa conduta moral não é algo muito honesto no meu ponto de vista. A consciência ecológica efetiva será alcançada somente quando os homens deixarem seus interesses individuais de lado em prol de um bem maior: a preservação e cuidado com a nossa única e essencial casa celeste.

Referências 


domingo, 21 de setembro de 2014

Vida: você sabe definir?

Com o perdão da metalinguagem, eu ainda não sei muito bem sobre o assunto desse texto. Geralmente eu começo a escrever com a mente “vazia” e então milhões de pensamentos aparecem desesperados querendo ser escritos e relatados. São tantos que muitos acabam ficando de fora e o fluxo de informações nunca cessa. Acho que a minha maior dificuldade em escrever, ao contrário de muitas pessoas que não sabem como iniciar o texto, é saber a hora certa de parar. Tenho mania de enxergar vida em tudo e personifico as palavras de um jeito que acabo tendo compaixão delas ao escrever. Penso “elas querem sair, elas querem ir para o papel”. Mas elas não querem. Elas não querem porque simplesmente elas não possuem a capacidade de querer. Elas não têm vida. Ou será que têm? Você já se perguntou o que significa “vida”? Cômico o fato de as pessoas falarem mil coisas e na hora de conceituarem as mesmas o silêncio perpetuar. Horrível, em contrapartida, o fato de pensar no significado de algo e não conseguir traduzir em palavras. Por exemplo, você sabe o que é um elefante, presumo. Enquanto você lê a palavra “elefante” nesse texto sua mente te mostra a imagem de um, e você imagina o elefante. Mas você sabe conceituar um elefante? Sabe dizer suas características morfológicas e comportamentais ou só sabe que ele é grande, cinza e possui uma tromba? Aliás, você sabe conceituar a palavra “tromba”? Engraçado como nosso cérebro nos prega peças sem percebermos. É mais engraçado ainda, para não dizer trágico, o fato de vivermos sem nos darmos conta do que vivemos. Minha pouca idade não é suficiente para conhecer tudo no mundo, e nem com 1000 anos eu conseguiria conhecer tudo, mas do pouco que conheço sobre este planeta e principalmente sobre as pessoas que aqui habitam, posso notar que a maioria nem se dá conta do que possui e não pensa nos conceitos. Parece-me que algo como um “modo automático” é ativado na vida de tais indivíduos. Isso me entristece, pois deveríamos aproveitar nosso curto tempo de vida nos dedicando a algo ou, pelo menos, olhando o mundo a nossa volta. Esse não é um texto de reflexão, acreditem. E, por mais que esteja cheio de metalinguagens, não é um texto sobre textos, tampouco sobre palavras. Também não é um texto sobre mim, apesar do meu evidente egocentrismo muita das vezes. Ainda não sei do que se trata. Malditas sinapses. Malditos pensamentos inquietos. Malditas palavras que não se contentam com a metafísica. Ou benditas. Em contrapartida com a significação da palavra “vida”, sabemos muito bem conceituar a autoconsciência humana, ou pelo menos tentamos. Mas será que a entendemos fundamentalmente? Creio que não. Somos capazes de falar, de pensar, de escrever, navegar, criar armas, construir satélites e de simular o big bang, somos capazes de refletir sobre a nossa própria existência, somos capazes de sair da Terra, de cultivar alimentos e criar clones, somos capazes de formular ideologias, de girar nosso mundo em torno de cédulas de papel, de extrair tal papel de árvores e de gerar energia, somos capazes de voar, somos capazes até de criar uma rede de comunicação totalmente invisível a olho nu, somos capazes de educar, de aprender, de reciclar, de ajudar. Mas será que, ao acreditarmos que somente nós somos capazes de tudo isso, não estaríamos alimentando nossa prepotência, arrogância e egocentrismo? Não me parece justo. Só enaltecemos a nós mesmos e deixamos de lado nossos pontos negativos. Nos colocamos acima de outros animais, mesmo que nós tenhamos aparecido aqui na Terra depois da maioria deles. Nos colocamos como donos do mundo e nos esquecemos de que o mundo é o lar de todos os seres que aqui vivem, desde bactérias até um macaco. Não me parece justo ignorar o fato de que fazemos guerra, destruímos uns aos outros, matamos pessoas por dinheiro, desmatamos florestas por dinheiro, criamos animais para o abate pura e simplesmente por dinheiro, destruímos todos os dias a camada de ozônio por dinheiro, poluímos ambientes aquáticos e terrestres por descaso ou por dinheiro, desviamos cursos hídricos por dinheiro, extinguimos espécies direta ou indiretamente por dinheiro, vivemos dinheiro, respiramos dinheiro, fazemos tudo por dinheiro. Somos seres dotados de inteligência e autoconsciência, mas de que adianta sermos tão espetaculares se usamos tais qualidades para a destruição e catástrofe? Apesar de ser amante da natureza e dos animais, não estou me posicionando de forma a parecer que odeio seres humanos, até porque faço parte desse grupo e não estaria escrevendo esse texto se não fizesse. O fato é que qualquer pessoa em seu pleno estado de sanidade mental consegue enxergar o quanto desperdiçamos nossa capacidade. Eu sempre reclamei dos meus pensamentos por serem demasiadamente exagerados em sua quantidade, como você pode notar no início desse texto. Mas depois que eu descobri o prazer de aprender e de exercitar minha inteligência, passei a gostar mais ainda do mundo em que vivo e do conhecimento. Temo o fim da nossa espécie, e por isso escrevo, visto que este é um trabalho de formiguinha. Inclusive, admiro muito as formigas por sua organização, força de trabalho, capacidade de sobrevivência e hierarquia saudável. Mas voltando ao ponto da extinção, sabemos que nosso planeta percorreu um longo e árduo caminho de 4,5 bilhões de anos até, por algum motivo, abrigar vida inteligente. E nós, fazendo parte desse grupo de seres especiais, nos destruímos e destruímos a nossa casa celeste todos os dias. Não me parece justo com a Terra. E, se formos extintos, quanto tempo irá demorar para que o nosso planeta gere vida inteligente novamente? Quanto tempo a possível futura civilização primitiva demorará até chegar em cabos de fibra óptica e acelerador de partículas? Ou, adotando uma visão mais pessimista, será que a Terra conseguirá mesmo abrigar esse tipo de vida futura se a nossa extinção virar realidade? Não temos como saber. Mas podemos, e devemos, evitar que essa catástrofe aconteça. Poderia ser fácil. Poderíamos acordar amanhã com a notícia de que o mundo está em paz, que as religiões se respeitam, que as ideologias não entram em conflito, que o dinheiro será distribuído igualmente para todos e que não há motivos para entrar em guerra pois todos os seres se amam e convivem em harmonia. Poderia ser assim, mas não é. Por algum motivo, nossa racionalidade fomenta o ódio e a intolerância por pensamentos divergentes dos nossos. Ao passo que nos colocamos acima de outros animais, e até de outros de nossa espécie, eles nos mostram o quanto somos inferiores. Aliás, nós nem nos consideramos como animais. Pura vaidade. Somos sim animais, evoluímos de ancestrais parecidos, senão os mesmos, que os deles. E mais, somos igualmente evoluídos. Então por que nos colocamos acima? O fato de nosso cérebro ser seis vezes maior do que o esperado para a nossa massa corporal nos dá mesmo o direito de acharmos que somos donos do mundo? Será mesmo que isso é suficiente para acreditar que o universo surgiu para atender às nossas necessidades? Não é muita prepotência de nossa parte? Os animais “irracionais” não falam, não constroem aviões, não escrevem, não se comunicam via internet e nem sequer pensam o porquê de estarem vivos. Mas eles fazem guerra? Eles matam uns aos outros por futilidades? Na verdade, eles sequer matam outros da mesma espécie a não ser por questão de sobrevivência. Será que somos mesmo melhores? Do ponto de vista metabólico, a complexidade da célula de uma árvore é maior do que a sua, e ainda assim você se acha no direito de derrubá-la só por ter autoconsciência? Que autoconsciência é essa? Aliás, você sabe definir autoconsciência? Sim, você sabe. Você sabe definir para mentir para si mesmo dizendo que pode fazer o que quiser porque a possui e as outras espécies não. Você aprende conceitos para justificar o que, no fundo, você sabe que fere seus instintos. Sim, você tem instintos. Você é um animal como qualquer outro. A diferença é que você não se aceita como um, e só não se aceita porque não olha ao seu redor. Posso parecer uma pessoa com visão utópica das coisas, mas quando vejo o mundo eu não imagino pôneis cor-de-rosa ou árvores de brigadeiro, e sim uma natureza extremamente magnífica e verdadeira. Me sinto parte da natureza, afinal, somos parte dela. Somos apenas mais um capítulo desse grande livro chamado Vida. Talvez sejamos o clímax dessa história, pois podemos decidir se o futuro dela será um final próximo e doloroso ou se ela não terá fim e perpetuará pela eternidade do universo. Utilizei tal metáfora porque geralmente essa figura de linguagem, pelo menos para mim, torna o entendimento mais fácil e me inspira. Espero que de alguma forma, se você leu esse texto até aqui, esses pensamentos te invadam de forma a acrescentar um desejo de olhar para os lados e de diminuir a vaidade quase que natural da nossa espécie. Não sei você, mas eu nasci em uma geração promissora. Uma geração que mostra-se essencial para a decisão do futuro da vida na Terra. Precisamos, mais do que nunca, fazer a nossa parte, como fazem as formigas. Porque as formigas, bem como os outros animais, não têm culpa da autodestruição diária que o ser humano promove. Essa geração tem mais do que uma “missão”. Ela tem o dever de garantir a perpetuação da vida inteligente nesse planeta. Uma vez li que somos a “consciência cósmica”. Isso significa que, até onde sabemos, nosso universo é composto por bilhões de galáxias com centenas de bilhões de estrelas, eu me arriscaria em dizer até que existe mais de um universo. Mas continuando, em uma dessas galáxias existe uma estrela chamada Sol em que orbita nosso querido e vital planeta Terra. Diante de toda a evolução de nosso planeta e da vida, somos os únicos em 4,5 bilhões de anos a ter a tal autoconsciência que citei. Além dessa autoconsciência, possuímos consciência do cosmos. Sabemos, através de nossas ferramentas, que não somos o centro do universo. Ademais, sabemos ainda que não existe centro do universo. E mesmo assim insistimos em achar que somos tal. Em vista disso, somos os únicos seres, dentro dos limites de nosso conhecimento extraterrestre, capazes de compreender as coisas que acontecem a nossa volta. E é por isso que devemos preservar a nossa casa celeste, é por isso que não podemos perder tempo com guerras inúteis, é por isso que devemos cuidar de nossos recursos naturais, e devemos também aprender a olhar os outros animais como nossos semelhantes. Se nós formos extintos, não haverá mais a “consciência cósmica”, e tudo o que existe até então apenas existirá. Encontrei o propósito desse texto. No começo dele, perguntei ao leitor se saberia definir a palavra “vida”. Muitos tentam definir através de conceitos biológicos, outros se baseiam na religiosidade, outros através da filosofia e assim por diante. A autoconsciência promove isso. Ela faz com que nós procuremos respostas para tudo e faz também com que tenhamos a vontade de entender o porquê de estarmos aqui e até de entender a própria autoconsciência. Compreender o significado de “vida” é o primeiro passo para isso. Eu, com minha pouca idade e experiências em número insignificante, arriscaria a definir vida como “algo verdadeiramente extraordinário e sem definição, porém com existência de importância imensurável”. A vida é um fato. Um fato que precisa ser preservado. Não há nada mais belo neste universo do que a vida. Não deixe essa história ter fim.

Referências/inspirações
Criação Imperfeita- Marcelo Gleiser
A Grande História da Evolução- Richard Dawkins
Vídeo: Sim, somos todos macacos

Nota de apresentação

Caro leitor,


Essa é minha primeira experiência com um blog e espero que seja promissora. Por ser amadora no assunto, peço que me perdoe caso eu não faça apontamentos esperados. Através da descrição do blog, torna-se clara a minha inciativa. Gostaria de elucidar o fato de que os assuntos aqui comentados serão baseados unica e exclusivamente em meus pensamentos. É claro que possuo minhas influências, inclusive vale ressaltar que nenhum texto é original, tendo em vista que todo o raciocínio que fazemos provém de algo que experimentamos no mundo exterior. Mas mesmo tendo influências e referências –vou procurar deixá-las ao final de meus textos- eu sempre procurarei citar aqui meus pensamentos mais profundos sobre determinado assunto. Lembrando que são MEUS e, por isso, podem entrar em conflito com as ideias de muitas pessoas. Dessa forma, ao ler minhas publicações, leve em conta que sou apenas uma jovem buscando respostas, e não uma profissional especializada em determinado assunto. Espero que goste, se identifique, ou então critique para que eu possa melhorar nas posteriores publicações. Até a próxima!