“Vivemos em tempos de consciência ecológica”, este é o
pensamento que a mídia e milhares de pessoas fazem questão de difundir pelo
mundo neste início de século XXI. Mas será mesmo que estamos vivenciando uma
modificação brusca em nossos valores ou será que esses tempos de consciência
ambiental são meras estratégias usadas para vender produtos e amenizar a culpa
do homem no processo de destruição do planeta? Penso que a todo instante
estamos sujeitos a uma “auto-justificação” quase que inconsciente que faz com
que precisemos encontrar maneiras de explicar o que se choca de alguma forma
com a nossa moral. A destruição do planeta por ação antrópica é um assunto que
aparece direta ou indiretamente em veículos de mídia com o intuito de conscientizar
a população. A comunicação é um grande difusor de ideias e as informações
circulam a todo tempo. Assim, nos dias de hoje, os indivíduos aprendem desde a
infância que não devem jogar lixo no chão e que cortar árvores prejudica a
natureza, por exemplo. Os valores, então, teoricamente, são passados de geração
em geração e cada vez mais sabemos o mal que causamos e o que devemos fazer
para conter esse mal. Ou seja, todos os valores que adquirimos ao longo da vida
nos levam a considerar atos contrários a eles como imorais. Isso, de fato, não
é algo ruim, pois possibilita que os indivíduos passem a adotar gradativamente
atitudes que retardem o processo de destruição planetária. O problema é quando
essa possível preocupação global, carinhosamente nomeada como “consciência
ecológica”, vira objeto de marketing. O chamado Green Marketing, ou Marketing Verde, consiste em um método de
comercialização sustentável, ou seja, que atende às necessidades humanas
causando poucos danos –ou nenhum- ao meio ambiente. A ideia é boa e aplicável,
visto que possuímos conhecimento e recursos suficientes para concluí-la de modo
efetivo. Contudo, o que podemos notar é que empresas e corporações estão se
aproveitando deste “mercado consumidor consciente”. A publicidade, braço
direito do consumismo do século XXI, tem um papel fundamental nessa trapaça
capitalista bem articulada. Somos bombardeados o tempo inteiro, seja nas ruas
ou no meio virtual, por propagandas que visam enaltecer a qualidade de
determinado produto, afinal, essa é a função da propaganda. Dentre essas
propagandas, podemos notar que muitas utilizam slogans falsos acompanhados -ou não- de elementos não-verbais que
remetem a preservação ambiental. O consumidor, dessa forma, se sente atraído
pelo produto com a intenção de ajudar o planeta e é enganado por tais dizeres.
Nesse sentido, acho que há uma falta de fiscalização da publicidade. Uma
pesquisa recente mostra que 37% dos brasileiros pagariam mais caro por
produtos verdes, isto é, produtos que se dizem sustentáveis. As empresas, não
só as brasileiras como as do resto do mundo, já notaram esse crescente desejo
da população em ajudar no retardamento dos prejuízos ambientais e utilizam tal
desejo para lucrar, fazendo uso de informações falsas para ganhar público
consumidor. Não há nada de errado com a proposta do Marketing Verde no plano
teórico, mas é nítido que há falhas gritantes no âmbito prático. Além de haver esse
problema da fiscalização de produtos “mentirosos”, há ainda aqueles com dizeres
verdadeiros, mas de difícil acesso. Ora, sabemos que produtos verdes possuem um
custo maior em relação aos convencionais e, portanto, provavelmente esses 37%
que responderam à pesquisa dizendo que estão dispostos a pagar por tais
produtos são pessoas que possuem um poder aquisitivo que proporcione isso, o
que não concorda com a situação financeira de milhões de brasileiros. Um
exemplo que me veio à mente é o dos lápis da Faber-Castell. Quando eu estava no
Ensino Fundamental, a escola solicitava a compra de lápis de cor para as
atividades escolares. Lembro-me bem que os lápis da Faber-Castell eram, e ainda
são, feitos com madeira de reflorestamento, pois a empresa possui uma área florestal
própria para a fabricação de seus produtos. O custo destes lápis é
consideravelmente maior do que o de outros não-sustentáveis. Retirando questões
como qualidade do produto, podemos perceber nitidamente que quem não tem
condições para pagar por mercadorias ditas ecologicamente corretas, optará
pelas que não atendem a esse quesito. Portanto, considerando uma escala
mundial, somente a minoria estaria disposta a pagar mais por esse tipo de
produto, visto que somente esta possui poder aquisitivo para tal e, assim, a
proposta de “preservação através de produtos sustentáveis” torna-se praticamente
vã. Ainda há, no Marketing Verde, outra problemática: a falta de informação.
Tenho uma concepção de que o conhecimento é um bem libertador incapaz de ser
roubado. Partindo por essa lógica, a ignorância, em contrapartida, é um
aprisionamento da mente. Não adianta disponibilizar no mercado produtos cujos
benefícios não são conhecidos por grande parte da população. Assim sendo,
podemos destacar os lados negativos do Green Marketing em três pontos: falta de
fiscalização da publicidade, custo/benefício deficitário e falha na propagação
de conhecimentos acerca das benfeitorias que determinados produtos promovem. É
claro que esses três pontos não desqualificam a essência da proposta. Produtos fabricados
com materiais biodegradáveis e feitos a partir de energia renovável devem ser
sim aumentados nas prateleiras. O que quero frisar é que tais produtos devem ser
de fácil acesso econômico, para que seu uso torne-se cada vez mais freqüente.
Também friso que os fabricantes, por sua vez, devem ser honestos para com o consumidor.
Mas enquanto isso ainda não é uma realidade, e como o nome deste blog já sugere
que utopias devem ser contidas, o que devemos fazer é buscar formas de filtrar
os dizeres das propagandas e procurar nas embalagens os chamados Selos Verdes,
que são selos emitidos por entidades comprometidas a fiscalizar a veracidade da
sustentabilidade do produto. Não posso dizer que a consciência ecológica é um
marco importante e extraordinário em nosso século, pois se ela realmente existe
é porque há um problema por trás que torna a sua existência possível. Eu, em
minhas convicções, não vejo nada de extraordinário na destruição contínua que
promovemos ao planeta. A transmissão de valores sustentáveis, por mais que
lenta, está sendo aplicada. Porém, não posso dizer o mesmo das atitudes. O que
vejo atualmente é que a maioria das pessoas, mesmo tendo em suas vidas a
preservação planetária como questão moral, não transpõe a teoria para a
prática. Assim, esta maioria pode ser considerada como imoral nesse aspecto, o
que confronta com o conceito de “consciência ecológica”, visto que se somos
imorais não podemos ser conscientes de forma efetiva e prática no campo
ambiental. Usar esse conceito para se promover economicamente ou justificar uma
falha na nossa conduta moral não é algo muito honesto no meu ponto de vista. A
consciência ecológica efetiva será alcançada somente quando os homens deixarem
seus interesses individuais de lado em prol de um bem maior: a preservação e
cuidado com a nossa única e essencial casa celeste.
Referências
Vídeo: Lavagem cerebral verde
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