terça-feira, 30 de setembro de 2014

Consciência ambiental: fato contemporâneo ou estratégia de marketing?

“Vivemos em tempos de consciência ecológica”, este é o pensamento que a mídia e milhares de pessoas fazem questão de difundir pelo mundo neste início de século XXI. Mas será mesmo que estamos vivenciando uma modificação brusca em nossos valores ou será que esses tempos de consciência ambiental são meras estratégias usadas para vender produtos e amenizar a culpa do homem no processo de destruição do planeta? Penso que a todo instante estamos sujeitos a uma “auto-justificação” quase que inconsciente que faz com que precisemos encontrar maneiras de explicar o que se choca de alguma forma com a nossa moral. A destruição do planeta por ação antrópica é um assunto que aparece direta ou indiretamente em veículos de mídia com o intuito de conscientizar a população. A comunicação é um grande difusor de ideias e as informações circulam a todo tempo. Assim, nos dias de hoje, os indivíduos aprendem desde a infância que não devem jogar lixo no chão e que cortar árvores prejudica a natureza, por exemplo. Os valores, então, teoricamente, são passados de geração em geração e cada vez mais sabemos o mal que causamos e o que devemos fazer para conter esse mal. Ou seja, todos os valores que adquirimos ao longo da vida nos levam a considerar atos contrários a eles como imorais. Isso, de fato, não é algo ruim, pois possibilita que os indivíduos passem a adotar gradativamente atitudes que retardem o processo de destruição planetária. O problema é quando essa possível preocupação global, carinhosamente nomeada como “consciência ecológica”, vira objeto de marketing. O chamado Green Marketing, ou Marketing Verde, consiste em um método de comercialização sustentável, ou seja, que atende às necessidades humanas causando poucos danos –ou nenhum- ao meio ambiente. A ideia é boa e aplicável, visto que possuímos conhecimento e recursos suficientes para concluí-la de modo efetivo. Contudo, o que podemos notar é que empresas e corporações estão se aproveitando deste “mercado consumidor consciente”. A publicidade, braço direito do consumismo do século XXI, tem um papel fundamental nessa trapaça capitalista bem articulada. Somos bombardeados o tempo inteiro, seja nas ruas ou no meio virtual, por propagandas que visam enaltecer a qualidade de determinado produto, afinal, essa é a função da propaganda. Dentre essas propagandas, podemos notar que muitas utilizam slogans falsos acompanhados -ou não- de elementos não-verbais que remetem a preservação ambiental. O consumidor, dessa forma, se sente atraído pelo produto com a intenção de ajudar o planeta e é enganado por tais dizeres. Nesse sentido, acho que há uma falta de fiscalização da publicidade. Uma pesquisa recente mostra que 37% dos brasileiros pagariam mais caro por produtos verdes, isto é, produtos que se dizem sustentáveis. As empresas, não só as brasileiras como as do resto do mundo, já notaram esse crescente desejo da população em ajudar no retardamento dos prejuízos ambientais e utilizam tal desejo para lucrar, fazendo uso de informações falsas para ganhar público consumidor. Não há nada de errado com a proposta do Marketing Verde no plano teórico, mas é nítido que há falhas gritantes no âmbito prático. Além de haver esse problema da fiscalização de produtos “mentirosos”, há ainda aqueles com dizeres verdadeiros, mas de difícil acesso. Ora, sabemos que produtos verdes possuem um custo maior em relação aos convencionais e, portanto, provavelmente esses 37% que responderam à pesquisa dizendo que estão dispostos a pagar por tais produtos são pessoas que possuem um poder aquisitivo que proporcione isso, o que não concorda com a situação financeira de milhões de brasileiros. Um exemplo que me veio à mente é o dos lápis da Faber-Castell. Quando eu estava no Ensino Fundamental, a escola solicitava a compra de lápis de cor para as atividades escolares. Lembro-me bem que os lápis da Faber-Castell eram, e ainda são, feitos com madeira de reflorestamento, pois a empresa possui uma área florestal própria para a fabricação de seus produtos. O custo destes lápis é consideravelmente maior do que o de outros não-sustentáveis. Retirando questões como qualidade do produto, podemos perceber nitidamente que quem não tem condições para pagar por mercadorias ditas ecologicamente corretas, optará pelas que não atendem a esse quesito. Portanto, considerando uma escala mundial, somente a minoria estaria disposta a pagar mais por esse tipo de produto, visto que somente esta possui poder aquisitivo para tal e, assim, a proposta de “preservação através de produtos sustentáveis” torna-se praticamente vã. Ainda há, no Marketing Verde, outra problemática: a falta de informação. Tenho uma concepção de que o conhecimento é um bem libertador incapaz de ser roubado. Partindo por essa lógica, a ignorância, em contrapartida, é um aprisionamento da mente. Não adianta disponibilizar no mercado produtos cujos benefícios não são conhecidos por grande parte da população. Assim sendo, podemos destacar os lados negativos do Green Marketing em três pontos: falta de fiscalização da publicidade, custo/benefício deficitário e falha na propagação de conhecimentos acerca das benfeitorias que determinados produtos promovem. É claro que esses três pontos não desqualificam a essência da proposta. Produtos fabricados com materiais biodegradáveis e feitos a partir de energia renovável devem ser sim aumentados nas prateleiras. O que quero frisar é que tais produtos devem ser de fácil acesso econômico, para que seu uso torne-se cada vez mais freqüente. Também friso que os fabricantes, por sua vez, devem ser honestos para com o consumidor. Mas enquanto isso ainda não é uma realidade, e como o nome deste blog já sugere que utopias devem ser contidas, o que devemos fazer é buscar formas de filtrar os dizeres das propagandas e procurar nas embalagens os chamados Selos Verdes, que são selos emitidos por entidades comprometidas a fiscalizar a veracidade da sustentabilidade do produto. Não posso dizer que a consciência ecológica é um marco importante e extraordinário em nosso século, pois se ela realmente existe é porque há um problema por trás que torna a sua existência possível. Eu, em minhas convicções, não vejo nada de extraordinário na destruição contínua que promovemos ao planeta. A transmissão de valores sustentáveis, por mais que lenta, está sendo aplicada. Porém, não posso dizer o mesmo das atitudes. O que vejo atualmente é que a maioria das pessoas, mesmo tendo em suas vidas a preservação planetária como questão moral, não transpõe a teoria para a prática. Assim, esta maioria pode ser considerada como imoral nesse aspecto, o que confronta com o conceito de “consciência ecológica”, visto que se somos imorais não podemos ser conscientes de forma efetiva e prática no campo ambiental. Usar esse conceito para se promover economicamente ou justificar uma falha na nossa conduta moral não é algo muito honesto no meu ponto de vista. A consciência ecológica efetiva será alcançada somente quando os homens deixarem seus interesses individuais de lado em prol de um bem maior: a preservação e cuidado com a nossa única e essencial casa celeste.

Referências 


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