A imagem acima mostra uma casa. Uma casa que abriga cerca de
7 bilhões de seres humanos e uma infinidade de outros seres vivos, bem mais
numerosos do que nós. Uma casa que só é vista de fora por alguns de seus
moradores e por satélites como os que fizeram a imagem acima. Observar essa
imagem é como mergulhar em uma vastidão de pensamentos e reflexões. Sobre a
superfície desta casa celeste, atraídas pela força gravitacional, diversas
formas de vida compartilham um espaço precioso. Embora vivam no mesmo mundo, as
inúmeras espécies vivem em mundos diferentes. Talvez a frase anterior soe
incoerente, ou pareça uma antítese sem fundamento, mas é totalmente plausível
quando consideramos que cada uma das espécies percebe o mundo de maneira
distinta. Você, um indivíduo saudável pertencente à espécie Homo sapiens, dispõe de uma maquinaria
sensitiva incrível composta por visão, audição, paladar, olfato e somestesia.
Esta última inclui o sentido do tato, a propriocepção (sua percepção no
espaço), percepção de dor e de temperatura. A palavra-chave aqui é “percepção”,
e precisamos entendê-la para prosseguir. Nossos órgãos sensoriais detectam os estímulos
do ambiente, e chamamos isso de sensação.
Já a percepção consiste na interpretação
a nível cortical desse estímulo sensorial que foi detectado pelo órgão em
questão. Podemos tomar como exemplo a visão. Feixes de luz incidem sobre o olho
e sofrem refração através do conjunto de lentes convergentes do globo ocular, a
córnea e o cristalino. Essa chegada de luz ao órgão da visão é a sensação. No
“fundo do olho”, isto é, na retina, há células fotorreceptoras, que recebem os
estímulos luminosos e os convertem em impulsos elétricos que serão propagados,
através do nervo óptico, ao córtex visual. É no córtex que a percepção acontece. Dessa
forma, podemos dizer que o olho nada enxerga, e sim o cérebro, que interpreta
as informações vindas através da luz. O olho, sozinho, não é capaz de fazer com
que um ser vivo veja o mundo. É por esse motivo que não é possível saber com
precisão a forma como as outras espécies enxergam o ambiente que as cercam,
visto que o estudo cerebral de seres incapazes de se expressar por meio da fala
é muito limitado. Dei esse exemplo para termos em mente o conceito de
“sensação” e de “percepção”. Cada órgão sensorial é uma porta para infinitos
estímulos, que são percebidos de maneira distinta por cada espécie, e me
arrisco a dizer que essa diferença se aplique também a cada indivíduo de uma
mesma espécie. Nós, humanos, temos como
sentido predominante a visão. Somos seres visuais. Mas, mesmo assim, somos limitados
quanto ao comprimento de onda que podemos enxergar, que varia entre 400 e
700nm. Há de se concordar que espécies capazes de ultrapassar tais comprimentos
de onda percebam o mundo de maneira diferente da nossa. Agora, tendo em vista
essa discrepância de percepções, considere, além da visão, todos os outros
sentidos que citei. Pensando desta forma, a proposição de que o planeta mostrado
acima é o mesmo para todos, mas ao mesmo tempo diferente, torna-se consistente
e verdadeira. Nem todas as espécies dispõem de tantos sentidos como a nossa. Algumas
possuem apenas um, ou então dois ou três, sejam eles muito ou pouco
desenvolvidos. A quantidade de sentidos e os níveis de desenvolvimento dos
órgãos sensoriais são fatores que influenciam na percepção do ambiente. Entre
indivíduos da mesma espécie, pequenas alterações genéticas podem fazer com que
um tenha a visão mais apurada, ou a audição menos desenvolvida do que outro,
por exemplo. As pequenas mutações que tornam cada indivíduo único fazem com que
suas respectivas percepções mundanas sejam diferentes. Se tratando de seres
irracionais, a diferença que menciono fica estacionada no ponto de vista
biológico. Mas, ao falarmos de seres detentores de consciência, como o Homem, a
ideia de percepção ultrapassa os limites biológicos e sofre influências
culturais e intelectuais. E é nesse ponto que entra a reflexão: a Terra é a
mesma para todos os seres humanos, mas cada um tem sua própria maneira de
percebê-la, seja por suas diferenças fisiológicas e/ou culturais. Ao olhar a
imagem apresentada no início dessa postagem me deparei com alguns
questionamentos: Será que o meu pensamento em relação a esse planeta é
compartilhado por outros da minha espécie? Ou será que as minhas concepções são
únicas, assim como o DNA presente em cada uma de minhas células? Mostre essa
foto a um cristão, e ele dirá que está vendo uma obra de seu Deus. Aos olhos,
ou melhor, ao cérebro de um geógrafo, passará uma série de informações acerca
da geologia, continentes, fusos horários, e conceitos que dão sentido à sua
profissão e vida. Se você apresentar a mesma imagem a um sociólogo, ele logo
pensará nas diversas culturas e etnias que dominam os continentes e em teorias
que expliquem a forma com que as sociedades se relacionam. Um historiador
pensará nas guerras travadas durante anos, na forma com que a política foi
conduzida e como as civilizações se formaram e mudaram ao longo do tempo. Para
um químico, a Terra é um berço de elementos combinados, moléculas, átomos,
matéria orgânica e inorgânica, um planeta que une condições preciosas para a
permanência da vida. Para um astrônomo ou astrofísico, não passa de mais um
dentre tantos planetas que orbitam uma estrela, dentre tantas estrelas nesta
galáxia, dentre tantas galáxias que existem neste Universo. Para uma criança,
parece uma bola de futebol. Para um sensacionalista, uma montagem feita pela
NASA. Para um biólogo, essa imagem representa a oportunidade que a vida teve de
surgir e tem de evoluir. Para um poeta, o lar dos pensadores. Já para um
matemático, uma grande esfera, fonte de fórmulas, estatísticas. Para um homem
humilde, a prova de que somos pequenos demais. Para mim, uma casa rara, abrigo
abundante de vida, palco das incríveis pressões evolutivas, um pequeno ponto do
Universo compartilhado por tantos seres e que nunca será percebido em sua
totalidade, visto que temos capacidade fisiológica e cognitiva limitada. Pude
concluir, a partir disso, que a etnia que você possui, a tribo da qual você faz
parte, os valores que você adquiriu ao longo da vida e seus conhecimentos a
respeito do mundo à sua volta, tudo isso está incluso em um conjunto de fatores
que fazem de você um ser único, assim como sua molécula de DNA, repleta de
genes que codificam informações a respeito dos seus órgãos sensoriais e do
resto de seu organismo. Portanto, existem dois fatos que tornam um ser humano
singular entre os demais de sua espécie: o primeiro é sua percepção biológica, aquela que depende do seu código genético, dos
seus órgãos sensoriais que, por minimamente diferentes que sejam, geram uma
distinta percepção de mundo em cada indivíduo. As diferentes percepções
biológicas ocorrem entre as demais espécies da Terra, visto que cada uma difere
entre si da sua maneira, assim como cada indivíduo da mesma espécie se distingue
do outro. Esta percepção, portanto, não é exclusividade humana. Mas, ao mesmo
tempo, torna cada ser humano único. O segundo fato é a percepção cultural, isto é, aquela que une seus conhecimentos e
hábitos ao longo da vida, tornando você um ser crítico que busca um significado
próprio para cada objeto a qual é submetido ter contato por meio de sensações. As
percepções culturais, ao contrário das biológicas, são exclusividade humana. Devido
a nossa capacidade cognitiva e autoconsciência, nos distinguimos das outras
espécies por moldar o mundo de acordo com nossas convicções, crenças e
interesses. As duas percepções que citei, biológica e cultural, são de fato o
que nos torna únicos. Entre elas, aparecem semelhanças. Biologicamente, você tem
em comum com outro ser humano aproximadamente 99,9% do seu DNA, isso significa
que há diferenças minúsculas e irrelevantes entre os seus órgãos sensoriais e
os de um chinês a milhas de distância. Culturalmente, as semelhanças aparecem
em menor número se usarmos o exemplo do brasileiro e do chinês. Eles se
distinguem na fala, no modo como se vestem, na maneira de pensar, entre outros
aspectos numerosos. Porém, se compararmos alguém da mesma etnia e da mesma
tribo, como um grupo de físicos brasileiros por exemplo, veremos que suas
percepções mundanas são bem semelhantes. É esse brilhante jogo de percepções culturais
que faz com que mesmo gêmeos monozigóticos, detentores do mesmo genoma, sejam indivíduos
com percepções de mundo diferentes, compartilhando algumas eventuais
semelhanças caso vivam no mesmo ambiente. Nesse momento, peço ao leitor que retorne
a imagem e diga o que ela representa em suas compreensões. Através de uma
imagem como esta, podemos ver o quão particulares somos e como a nossa
personalidade é estampada até no mais simples dos questionamentos. Usufruindo
de uma licença poética da qual não possuo, tomo a liberdade de criar uma
definição metafórica para a nossa espécie: O ser humano é uma singularidade no
meio de um plural sem fim.
The intelligent universe
Somos a parte inteligente de um universo infinitamente grande. Isso não deve se perder. Os textos aqui registrados abordarão temas como ecologia, evolução, neurociências, consciência humana, zoologia e questões filosóficas. Todos pautados em cima de meus pensamentos e convicções. Sou leiga na maioria dos assuntos e, portanto, aceito considerações e questionamentos.
terça-feira, 15 de setembro de 2015
terça-feira, 3 de março de 2015
Uso de animais em meios acadêmicos, testes e pesquisas: até que ponto é necessário?
Desde os primórdios da Ciência, os homens utilizam animais ditos
irracionais em laboratórios de pesquisa ou meios acadêmicos a fim de entender
organismos, descobrir doenças e possíveis curas, trazer avanços científicos ou
medicinais, e realizar feitos em benefício da espécie humana. Atualmente há um
debate ético e de grande importância a respeito dos métodos convencionais ainda
utilizados para atingir tais avanços. Como ingressante no curso de Medicina
Veterinária e ciente das possíveis situações as quais presenciarei, possuo uma
opinião ainda em formação sobre o assunto, visto que não tenho bagagem
acadêmica e experiências na área. Não sei se na minha universidade há a prática
da vivissecção, e possuo um certo receio caso tenha que me submeter a tal
prática nas aulas. Mas o objetivo desse texto, além de expressar minha opinião
sobre o assunto e criticar certos métodos, é desmistificar um pouco o uso de
animais em pesquisas, apontando os prós e contras desta prática que causa tanta
revolta em grande parte das pessoas.
Sendo amante dos
animais e defensora dos avanços científicos, encontro-me em uma situação
contraditória. Por um lado, sou contra ao sofrimento dos que não podem falar e
que, isentos do livre arbítrio, são submetidos a procedimentos sem ter o
direito de escolha. Por outro lado, sou a favor das maravilhas descobertas pela
Ciência que têm salvado tantas vidas. A questão central é qual o objetivo final
para a utilização de animais em testes. Por exemplo, eu particularmente sou
contra testes com fins estéticos, ou seja, para a fabricação de cosméticos. Mas
sou a favor de testes com objetivos medicinais, isto é, para a fabricação de
remédios. Com relação às aulas práticas, sou veementemente contra, mas ressalto
que ainda não comecei a estudar e posso vir a mudar de opinião.
Deixando de lado um
pouco as minhas considerações pessoais, é importante esclarecer alguns pontos. O
principal argumento dos que são contra aos testes (em qualquer situação) é o de
que existem métodos alternativos que podem substituir os convencionais. Bom, se
tratando do uso didático, essa premissa está certa. É comprovado que alunos que
participam de aulas utilizando métodos alternativos possuem rendimento
equivalente –e até melhor, em alguns casos- aos que estudam com métodos
tradicionais. Na lista dos alternativos se encontram simuladores
computacionais, bonecos, filmes e vídeos interativos, materiais em 3D, estudo
anatômico em animais mortos de causa natural etc. Acontece que há fatores que
impedem essas inovações de chegarem às instituições de ensino. Podemos resumir
em três fatores principais. O primeiro deles é o alto custo, pois tais
tecnologias demandam investimentos financeiros que muitas universidades não
estão dispostas a fazer, apesar de possuírem um bom custo-benefício, pois são
métodos permanentes e não “descartáveis”, como no caso dos seres vivos. O
segundo fator é a resistência dos professores, visto que muitos não consideram
a eficácia dos métodos alternativos como algo verídico. Há um certo preconceito
por parte dos docentes em relação à essa atualização na didática. E o terceiro
fator, que considero o mais preocupante, é a rejeição por parte de alunos.
Muitos discentes afirmam, mesmo sem ter experimentado, que os métodos
alternativos não os tornarão profissionais competentes no futuro. O mais
irônico nesse caso é que, tanto os professores como os alunos dos cursos que
“necessitam” de animais em aulas práticas (Biologia, Medicina, Medicina
Veterinária etc), possuem um compromisso ético com estes. Principalmente no
curso de Medicina Veterinária, onde são pregados valores e princípios voltados
à causa animal, acho incoerente utilizar o sofrimento dos bichanos sendo que há
métodos substitutivos que evitam dores e mortes em vão. A utilização de animais
em aulas práticas não contribui em nada para o avanço científico e descobertas,
pois tudo o que é ensinado já foi comprovado antes e não tem a necessidade de
ser repetido para que alunos compreendam. Ademais, os métodos alternativos
apresentam a vantagem de o aluno repetir a prática quantas vezes quiser. Já a
vivissecção, ou seja, a dissecação de um animal vivo com fins educacionais, não
possibilita essa vantagem de repetição da prática, além de, como já dito, não
contribuir em avanços científicos. O método da vivissecção atualmente divide a
sociedade em segmentos distintos: os abolicionistas, que não admitem o uso de
animais em qualquer circunstância e tentam abolir totalmente a prática; os
vivisseccionistas, que defendem o oposto dos abolicionistas, ou seja, acham que
o uso de animais é imprescindível no avanço da ciência e da educação; e há os
defensores do programa dos 3Rs (explico no 5º parágrafo), que é o meu caso.
Como dito, os
métodos alternativos são muito eficazes no meio acadêmico. Porém, nos testes
farmacológicos e nas pesquisas científicas, o uso de animais ainda é essencial.
Nesses casos, há os que defendem o uso de tecidos manipulados in vitro. Essa é,
sem dúvida, uma alternativa viável, mas não é 100% eficaz. Ora, há medicamentos
que precisam ser testados em organismos vivos, visto que a droga pode ser
eficaz num determinado tecido mas pode prejudicar outros órgãos. Dessa forma,
organismos complexos são necessários e ainda não há métodos que possam
substituí-los. Surge então o argumento de que o organismo de um roedor não é
igual ao organismo humano. E não é, de fato. Porém, os roedores são da classe
dos mamíferos, a mesma dos humanos. Em nível taxonômico, se aproximam bastante
de nós, inclusive suas funções e órgãos vitais. Além disso, vale ressaltar que
hoje há a manipulação genética de roedores, ou seja, os camundongos (espécie
mais utilizada em testes e pesquisas) são desenvolvidos especialmente para
serem cobaias. Os geneticistas produzem linhagens específicas para determinado
teste ou pesquisa, a fim de aproximar dos humanos ao máximo os órgãos e funções
vitais das linhagens de roedores produzidas. Além da semelhança entre a nossa
espécie e a dos camundongos, o tempo de vida média deles é de 2 a 3 anos, e por
isso é mais prático e ético testar nos roedores. A partir dessa premissa,
aparecem os que defendem que a vida tem igual valor para todas as espécies.
Tenho de concordar que a vida não se coloca em uma balança que determina qual
animal é mais valioso. Porém, os medicamentos que auxiliam os humanos e salvam
vidas precisam continuar sendo fabricados, e a lei determina que os testes são
proibidos em humanos, mesmo que estes sejam voluntários. Quando você tem dor,
você toma um analgésico que foi testado em algum animal antes de chegar até
você. Quando você está com alguma bactéria, um antibiótico que já foi testado
em animais as elimina e pode até salvar a sua vida. Os diabéticos só possuem
injeções de insulina porque animais foram submetidos a testes. E é assim que a
ciência avança. Claro que existem erros, e no final quem acabam sendo as
cobaias são os primeiros humanos que compram determinado medicamento recém chegado
nas farmácias. Mas esses números são insignificantes diante do número de seres
humanos que seriam prejudicados caso os testes passassem a ser feitos diretamente
em nossa espécie.
Vale lembrar que os
animais utilizados nos testes e nas pesquisas são em sua maioria roedores,
principalmente camundongos. Apenas 1% é composto por cães, gatos e primatas
não-humanos. Além disso, os animais que vivem em biotério são extremamente bem
cuidados. Possuem temperatura adequada, conforto e alimentação balanceada de
primeira qualidade. Até porque, qualquer alteração nesse meio ou desconforto ao
animal pode afetar o desenvolvimento da pesquisa. Ressalto também que os
cientistas sempre buscam minimizar ao máximo o sofrimento do animal. Para tal,
assim como na ecologia, a política de testes em animais possui o programa dos
3Rs, que basicamente visa três objetivos: Redução (Reduction), Refinamento (Refinement)
e Substituição (Replacement). O
primeiro busca a redução de animais em pesquisas, ou seja, toda e qualquer
pesquisa que necessite de animais precisa passar por um Comitê de Ética que
avalia a quantidade necessária de animais para a realização da mesma. Dessa
forma, se o cientista pede um número X de animais, o comitê pode tanto aprovar
quanto reprovar o pedido, sendo que no último caso indica-se a quantidade
correta e NECESSÁRIA, obrigando o pesquisador a cumprir a norma. Já o segundo
(Refinamento), busca melhorar as condições e métodos de estudo, diminuindo o
possível sofrimento causado ao animal. E por último, o terceiro (Substituição)
busca métodos alternativos sempre que possível, para enfim, alcançar a meta
máxima de substituição total dos animais. Esse programa dos 3Rs é amplamente
divulgado e presente em pesquisas. Portanto, ao contrário do que é muito
estereotipado, o bem estar animal é fundamental em pesquisas e estas não devem
ser vistas como algo retrógrado pela sociedade. Defender os 3Rs, na minha
opinião, é a atitude mais sensata atualmente.
Não vou fechar meus
olhos para a realidade e fingir que não existe clandestinidade nesta área,
afinal, a utopia sempre tem de ser controlada. Existem sim laboratórios
clandestinos que utilizam animais indiscriminadamente, sem controle legal e
ético, que maltratam animais e se posicionam inertes ao sofrimento. Mas,
felizmente, são minoria. As pesquisas sérias de medicamentos atendem às normas
legais e ao programa dos 3Rs.
Se tratando da
indústria de cosméticos, a história muda. Se na fabricação de medicamentos o
uso de animais é imprescindível, na de cosméticos se torna fútil e supérflua.
Não vou ser hipócrita e dizer que é necessária uma interrupção na produção de
cosméticos, porque eu utilizo alguns produtos e muitos são úteis para o bem
estar do ser humano, como filtros solares, desodorantes, perfumes etc. A
problemática consiste na quantidade de futilidades produzidas. Todo ano
milhares de novas cores de esmaltes e batons são lançadas, milhares de marcas
surgem produzindo produtos novos para competir com as concorrentes e precisam
testar tais produtos antes de lançar no mercado. Todo ano milhares de cremes
com fragrâncias diferentes são lançados, milhares de novas linhas de cremes rejuvenescedores
são produzidos. Muitas marcas surgem, e dentro dessas marcas, muitas variações.
Será mesmo que essa quantidade absurda de cosméticos é necessária para uma boa
qualidade de vida? Já não é suficiente a infinidade de cores de batons e
esmaltes que há por aí, a imensidão de fragrâncias que existem, a abundância de
marcas existentes mundo afora? Precisa mesmo de mais? Essa é a questão. A
futilidade a que me refiro nada mais é do que a grande quantidade desnecessária
de cosméticos novos sendo lançados. Nunca vi um batom salvar vidas. Mas já vi
um coelho perdendo a visão por conta de um batom. O problema não é testar algo em
animais, e sim o motivo pelo qual se testa.
Em suma, me
posiciono a favor do programa dos 3Rs, contra ao uso de animais em meio
acadêmico, e crítica a respeito da fabricação de cosméticos, sendo que abomino
os testes na indústria da beleza para finalidades fúteis. Apresentei aqui
argumentos que dão consistência à minha opinião e que, no meu ponto de vista,
são os mais racionais possíveis nas condições atuais. Lembrando, é claro, que
posso mudar minhas perspectivas de vida ao longo do tempo. Sou a prova viva de
que é possível conciliar o amor pelos animais e a defesa da Ciência.
Referências:
Pesquisa: Animais em aulas práticas: Podemos substituí-los com a mesma qualidade de ensino?
Editorial: Aspectos éticos da pesquisa com animais
Vídeos: Por que (ainda) precisamos fazer testes científicos com animais?
Fantástico - Pesquisas com animais é crueldade ou não?
Pesquisas com animais: Quebrando mitos
Testes em animais: um adendo
Cientistas se dividem sobre uso de animais em testes
Reportagens: Argumentos a favor e contra o uso de animais em pesquisas científicas
Brasil vai validar métodos alternativos ao uso de animais em pesquisa
Artigo: Redução, Refinamento e Substituição do uso de animais em estudos toxicológicos: uma abordagem atual
domingo, 16 de novembro de 2014
Preservação da água e manutenção da vida
Sopa primordial, aproximadamente
4 bilhões de anos atrás. Descargas elétricas altíssimas vindas de raios, elevadas
temperaturas devido a frequentes erupções vulcânicas, elementos químicos sendo
despejados na superfície terrestre através dos alquimistas cósmicos, as
estrelas. No líquido vital e primitivo, elementos simples se fundiram,
moléculas foram formadas e se uniram dando origem a compostos orgânicos, como
os aminoácidos, essenciais para a formação de ácidos nucleicos e proteínas. Todos
esses componentes deram início a vida primitiva na presença de um ingrediente
fundamental: a água. Se você não acredita nesta teoria e acha que a origem da
vida dependeu de outros fatores, não precisa ir muito longe do seu cotidiano
para saber que a água é muito importante para a sobrevivência humana. Não é só
o fato de o corpo humano ser composto por 70% de água que fortalece essa
premissa. Se você não concorda que somos organismos que viemos primordialmente
da água, basta olhar para as suas atividades diárias e ver que sem água você
não viveria. Até uma simples blusa necessita de litros d’água para ser
fabricada. Talvez você diga que roupas não são essenciais para a sobrevivência,
mas sabe que a alimentação é. Todo e qualquer alimento, seja ele orgânico ou
industrializado, depende de água para ser fabricado. A nossa higiene depende da
água. A comida que consumimos depende de água para ser plantada, transportada,
lavada e cozida. A matéria-prima para a fabricação de diversos produtos que
adquirimos necessita de água. Aliás, a água é insumo para uma infinidade de
fabricados. A indústria precisa de água para a produção de mercadorias, até o
pneu do seu carro depende da água para ser fabricado. E, mesmo assim, o que
nota-se é um desperdício quase que generalizado. A pergunta que me atormenta é
a seguinte: por quê? Por qual motivo jogamos fora tantos litros desse líquido
vital todos os dias? Negligência? Hábitos cristalizados? O que faz com que
tantos seres humanos, mesmo sabendo da importância de tal líquido para a
sobrevivência, o desperdicem com tanta naturalidade?
Não conheço outros países, mas não é preciso
ir tão longe para observar o desperdício. O Brasil possui uma abundância
preciosa de água e mesmo assim milhares de brasileiros fazem uso excessivo e
indiscriminado do fluido. Será que tal abundância é o motivo da prática
agressiva ao meio ambiente? Talvez seja. Tendemos a desvalorizar o que
possuímos em excesso. Sabemos que, mesmo com a confusão governamental na
questão do precário abastecimento de água, possuímos o líquido em quantidade suficiente
para todos os habitantes do país. Porém, não escapamos da lógica de escassez
futura. A seca no Sudeste que presenciamos seja pessoalmente ou via
noticiários, por mais que seja decorrente de fenômenos meteorológicos incomuns,
tem seu lugar na enorme lista de consequências da exploração indevida do solo e
da degradação frequente do meio ambiente. O desmatamento da Amazônia pode ser
apontado como uma das causas para a seca. A chuva que o Sudeste recebe é
oriunda da umidade vinda da Floresta Amazônica. Sem árvores, sem umidade. Sem
umidade, sem chuvas. Sem chuvas, sem abastecimento de represas. Sem o
abastecimento, sem água nas casas. É um ciclo. E o ciclo hidrológico, por sua
vez, com sua simetria quase perfeita, está sendo corrompido por ações humanas.
A criação de gado é um dos motivos pelos quais a floresta é desmatada. Além
disso, podemos citar o cultivo de soja e a ocupação populacional. A floresta
que é considerada simbolicamente como o pulmão do mundo é, na verdade, o
chuveiro que banha as regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil, ajudando a
manter o nível dos reservatórios em condições favoráveis a habitação humana. Mesmo
com todo esse potencial e relevância para a vida, está sendo destruída aos
poucos.
Mas não é só o desmatamento da
Amazônia que prejudica o Sudeste atualmente e pode prejudicar futuramente. A
derrubada de matas ciliares -árvores ribeirinhas que protegem os rios assim como
os cílios protegem os olhos- contribui para a grave seca que a região enfrenta.
Ora, as matas ciliares ajudam a evitar o assoreamento dos rios, além de contribuírem
para a manutenção da umidade da região. Sem matas ciliares, os rios assoreiam e
perdem gradualmente sua capacidade de armazenamento, e isso, é claro, afeta o
cotidiano da população. Fugindo um pouco dos problemas humanos, não posso
deixar de fazer a ressalva de que as matas ciliares possuem o papel de “corredores”
para os animais silvestres, onde estes a utilizam para encontrar alimentos e
acasalar. Portanto, além do papel protetor dos rios, as matas ciliares são
fatores fundamentais para a conservação da biodiversidade. Voltando a questão
da água, em São Paulo por exemplo, onde a crise hídrica foi mais agravante,
temos o exemplo de matas ciliares devastadas por causa da construção de
condomínios e áreas habitacionais do gênero. Além do problema de superlotação
que a grande São Paulo enfrenta, o que força a busca por áreas mais afastadas
das centrais, os interesses econômicos e especulativos dos empresários são relevantes
causas para tal degradação do meio ambiente. Falta bom senso. Mas além disso,
falta fiscalização governamental e políticas que atuem na preservação de tais
locais, visto que os rios presentes neles são fundamentais para a vida nas cidades.
Diante de tal cenário quase que
devastador e do pesadelo de escassez futura, a solução mais viável para esse
tipo de problema ambiental é o reflorestamento. É possível recuperar as matas
ciliares de São Paulo, e também a floresta Amazônica, através do plantio de
árvores. Isso demanda dinheiro, mas uma quantia insignificante diante do gasto
futuro com caminhões-pipa ou multas nas contas de água. A solução é simples,
mas precisa de tempo. Estima-se que em São Paulo demore no mínimo 100 anos –em
condições mais pessimistas, 200 anos- para que uma recuperação seja atingida. É um
investimento de longo prazo, mas imprescindível para o bem da natureza e para
os níveis de precipitação que tanto são importantes para a vida. Com o plantio
de árvores, a umidade começa a voltar aos níveis normais e, consequentemente, as
chuvas passam a ter a frequência natural em cada região.
O paradoxo começa a tomar forma
quando nos direcionamos aos hábitos populacionais. Não adianta reflorestar as
áreas devastadas e voltar os reservatórios aos níveis normais se a população
não se conscientizar. No meu dia-a-dia vejo cenas que gostaria que fossem
surreais, mas não são. Infelizmente, muitas pessoas ainda possuem a mentalidade
do “vi no jornal, mas isso não chega até mim” ou “vou morrer logo, não preciso
me preocupar com isso” ou “a água do mundo não vai acabar, olha a quantidade
que existe nos oceanos”. Além da ignorância –imperdoável, pois a maioria possui
veículos de mídia em casa e conhece a realidade-, é notável um egoísmo quase
que intrínseco ao caráter humano. Não pensar nas próximas gerações é como
querer a extinção da própria espécie. É uma forma de suicídio adiado. Além
disso, considerar a água do mar como “potável” é no mínimo burrice. Não vou
descartar a prática de dessalinização das águas oceânicas pois muitos países
adotaram tal medida, mas é um método caro. E mais: se num futuro, talvez
próximo, utilizarmos água do mar para atender nossas necessidades, vamos afetar
ecossistemas marinhos e isso pode gerar um efeito “bola de neve” catastrófico.
Imagine suprir oito bilhões de pessoas (no futuro esse número será bem maior)
com água do mar! Diversos animais marinhos irão morrer e, possivelmente, algas
também. Não posso deixar de citar que grande parte do oxigênio que respiramos
provém das algas. Elas retiram gás carbônico da atmosfera para transformar em
oxigênio, em um processo conhecido como fotossíntese. Com menos algas, menos
oxigênio e mais gás carbônico, que é um gás estufa e esquenta a atmosfera
terrestre. Ou seja, utilizar águas oceânicas seria o primeiro dominó derrubado
de uma série de outros dominós enfileirados. Os indivíduos egoístas ou os que
utilizam o argumento da dessalinização da água como solução precisam, mais do
que nunca, mudar de conduta. E os que já são conscientes, precisam ser mais
ainda.
A maior dificuldade em escrever sobre
a água e seu desperdício consiste no fato de que somos feitos dela e, portanto,
estamos nos matando aos poucos. Mas essa dificuldade deve ser considerada como
motivação para nos conscientizarmos e agirmos em prol de nossa sobrevivência. A
verdade é que o planeta sobrevive muito bem sem a gente, mesmo com todos os
estragos que andamos fazendo durante esses milhares de anos de exploração
planetária, mas nós não vivemos sem ele. É por isso que devemos preservar
enquanto temos nossos recursos. Somos água, viemos dela e dependemos dela.
Acabar com ela é acabar com nós mesmos. Como Tales de Mileto, considerado o
primeiro filósofo da história, dizia: “Tudo é água”. Tirando a ideia de
universalidade em sua filosofia primordial e trazendo tal frase ao contexto
atual, vemos que Tales não estava tão errado e que as coisas não mudaram muito
do século VI a.C até os dias de hoje. Enquanto existir vida, a água sempre será
tudo. E o papel dessa geração é resgatar o que foi perdido no passado e
preservar o que existe no presente para que o futuro das gerações seguintes não
seja repleto de guerras por água ou marque o fim prematuro da espécie humana.
Referências
Reportagens:
terça-feira, 30 de setembro de 2014
Consciência ambiental: fato contemporâneo ou estratégia de marketing?
“Vivemos em tempos de consciência ecológica”, este é o
pensamento que a mídia e milhares de pessoas fazem questão de difundir pelo
mundo neste início de século XXI. Mas será mesmo que estamos vivenciando uma
modificação brusca em nossos valores ou será que esses tempos de consciência
ambiental são meras estratégias usadas para vender produtos e amenizar a culpa
do homem no processo de destruição do planeta? Penso que a todo instante
estamos sujeitos a uma “auto-justificação” quase que inconsciente que faz com
que precisemos encontrar maneiras de explicar o que se choca de alguma forma
com a nossa moral. A destruição do planeta por ação antrópica é um assunto que
aparece direta ou indiretamente em veículos de mídia com o intuito de conscientizar
a população. A comunicação é um grande difusor de ideias e as informações
circulam a todo tempo. Assim, nos dias de hoje, os indivíduos aprendem desde a
infância que não devem jogar lixo no chão e que cortar árvores prejudica a
natureza, por exemplo. Os valores, então, teoricamente, são passados de geração
em geração e cada vez mais sabemos o mal que causamos e o que devemos fazer
para conter esse mal. Ou seja, todos os valores que adquirimos ao longo da vida
nos levam a considerar atos contrários a eles como imorais. Isso, de fato, não
é algo ruim, pois possibilita que os indivíduos passem a adotar gradativamente
atitudes que retardem o processo de destruição planetária. O problema é quando
essa possível preocupação global, carinhosamente nomeada como “consciência
ecológica”, vira objeto de marketing. O chamado Green Marketing, ou Marketing Verde, consiste em um método de
comercialização sustentável, ou seja, que atende às necessidades humanas
causando poucos danos –ou nenhum- ao meio ambiente. A ideia é boa e aplicável,
visto que possuímos conhecimento e recursos suficientes para concluí-la de modo
efetivo. Contudo, o que podemos notar é que empresas e corporações estão se
aproveitando deste “mercado consumidor consciente”. A publicidade, braço
direito do consumismo do século XXI, tem um papel fundamental nessa trapaça
capitalista bem articulada. Somos bombardeados o tempo inteiro, seja nas ruas
ou no meio virtual, por propagandas que visam enaltecer a qualidade de
determinado produto, afinal, essa é a função da propaganda. Dentre essas
propagandas, podemos notar que muitas utilizam slogans falsos acompanhados -ou não- de elementos não-verbais que
remetem a preservação ambiental. O consumidor, dessa forma, se sente atraído
pelo produto com a intenção de ajudar o planeta e é enganado por tais dizeres.
Nesse sentido, acho que há uma falta de fiscalização da publicidade. Uma
pesquisa recente mostra que 37% dos brasileiros pagariam mais caro por
produtos verdes, isto é, produtos que se dizem sustentáveis. As empresas, não
só as brasileiras como as do resto do mundo, já notaram esse crescente desejo
da população em ajudar no retardamento dos prejuízos ambientais e utilizam tal
desejo para lucrar, fazendo uso de informações falsas para ganhar público
consumidor. Não há nada de errado com a proposta do Marketing Verde no plano
teórico, mas é nítido que há falhas gritantes no âmbito prático. Além de haver esse
problema da fiscalização de produtos “mentirosos”, há ainda aqueles com dizeres
verdadeiros, mas de difícil acesso. Ora, sabemos que produtos verdes possuem um
custo maior em relação aos convencionais e, portanto, provavelmente esses 37%
que responderam à pesquisa dizendo que estão dispostos a pagar por tais
produtos são pessoas que possuem um poder aquisitivo que proporcione isso, o
que não concorda com a situação financeira de milhões de brasileiros. Um
exemplo que me veio à mente é o dos lápis da Faber-Castell. Quando eu estava no
Ensino Fundamental, a escola solicitava a compra de lápis de cor para as
atividades escolares. Lembro-me bem que os lápis da Faber-Castell eram, e ainda
são, feitos com madeira de reflorestamento, pois a empresa possui uma área florestal
própria para a fabricação de seus produtos. O custo destes lápis é
consideravelmente maior do que o de outros não-sustentáveis. Retirando questões
como qualidade do produto, podemos perceber nitidamente que quem não tem
condições para pagar por mercadorias ditas ecologicamente corretas, optará
pelas que não atendem a esse quesito. Portanto, considerando uma escala
mundial, somente a minoria estaria disposta a pagar mais por esse tipo de
produto, visto que somente esta possui poder aquisitivo para tal e, assim, a
proposta de “preservação através de produtos sustentáveis” torna-se praticamente
vã. Ainda há, no Marketing Verde, outra problemática: a falta de informação.
Tenho uma concepção de que o conhecimento é um bem libertador incapaz de ser
roubado. Partindo por essa lógica, a ignorância, em contrapartida, é um
aprisionamento da mente. Não adianta disponibilizar no mercado produtos cujos
benefícios não são conhecidos por grande parte da população. Assim sendo,
podemos destacar os lados negativos do Green Marketing em três pontos: falta de
fiscalização da publicidade, custo/benefício deficitário e falha na propagação
de conhecimentos acerca das benfeitorias que determinados produtos promovem. É
claro que esses três pontos não desqualificam a essência da proposta. Produtos fabricados
com materiais biodegradáveis e feitos a partir de energia renovável devem ser
sim aumentados nas prateleiras. O que quero frisar é que tais produtos devem ser
de fácil acesso econômico, para que seu uso torne-se cada vez mais freqüente.
Também friso que os fabricantes, por sua vez, devem ser honestos para com o consumidor.
Mas enquanto isso ainda não é uma realidade, e como o nome deste blog já sugere
que utopias devem ser contidas, o que devemos fazer é buscar formas de filtrar
os dizeres das propagandas e procurar nas embalagens os chamados Selos Verdes,
que são selos emitidos por entidades comprometidas a fiscalizar a veracidade da
sustentabilidade do produto. Não posso dizer que a consciência ecológica é um
marco importante e extraordinário em nosso século, pois se ela realmente existe
é porque há um problema por trás que torna a sua existência possível. Eu, em
minhas convicções, não vejo nada de extraordinário na destruição contínua que
promovemos ao planeta. A transmissão de valores sustentáveis, por mais que
lenta, está sendo aplicada. Porém, não posso dizer o mesmo das atitudes. O que
vejo atualmente é que a maioria das pessoas, mesmo tendo em suas vidas a
preservação planetária como questão moral, não transpõe a teoria para a
prática. Assim, esta maioria pode ser considerada como imoral nesse aspecto, o
que confronta com o conceito de “consciência ecológica”, visto que se somos
imorais não podemos ser conscientes de forma efetiva e prática no campo
ambiental. Usar esse conceito para se promover economicamente ou justificar uma
falha na nossa conduta moral não é algo muito honesto no meu ponto de vista. A
consciência ecológica efetiva será alcançada somente quando os homens deixarem
seus interesses individuais de lado em prol de um bem maior: a preservação e
cuidado com a nossa única e essencial casa celeste.
Referências
Vídeo: Lavagem cerebral verde
domingo, 21 de setembro de 2014
Vida: você sabe definir?
Com o perdão da metalinguagem, eu ainda não sei muito bem
sobre o assunto desse texto. Geralmente eu começo a escrever com a mente
“vazia” e então milhões de pensamentos aparecem desesperados querendo ser
escritos e relatados. São tantos que muitos acabam ficando de fora e o fluxo de
informações nunca cessa. Acho que a minha maior dificuldade em escrever, ao
contrário de muitas pessoas que não sabem como iniciar o texto, é saber a hora
certa de parar. Tenho mania de enxergar vida em tudo e personifico as palavras
de um jeito que acabo tendo compaixão delas ao escrever. Penso “elas querem
sair, elas querem ir para o papel”. Mas elas não querem. Elas não querem porque
simplesmente elas não possuem a capacidade de querer. Elas não têm vida. Ou
será que têm? Você já se perguntou o que significa “vida”? Cômico o fato de as
pessoas falarem mil coisas e na hora de conceituarem as mesmas o silêncio
perpetuar. Horrível, em contrapartida, o fato de pensar no significado de algo
e não conseguir traduzir em palavras. Por exemplo, você sabe o que é um
elefante, presumo. Enquanto você lê a palavra “elefante” nesse texto sua mente
te mostra a imagem de um, e você imagina o elefante. Mas você sabe conceituar
um elefante? Sabe dizer suas características morfológicas e comportamentais ou
só sabe que ele é grande, cinza e possui uma tromba? Aliás, você sabe
conceituar a palavra “tromba”? Engraçado como nosso cérebro nos prega peças sem
percebermos. É mais engraçado ainda, para não dizer trágico, o fato de vivermos
sem nos darmos conta do que vivemos. Minha pouca idade não é suficiente para
conhecer tudo no mundo, e nem com 1000 anos eu conseguiria conhecer tudo, mas do
pouco que conheço sobre este planeta e principalmente sobre as pessoas que aqui
habitam, posso notar que a maioria nem se dá conta do que possui e não pensa
nos conceitos. Parece-me que algo como um “modo automático” é ativado na vida
de tais indivíduos. Isso me entristece, pois deveríamos aproveitar nosso curto
tempo de vida nos dedicando a algo ou, pelo menos, olhando o mundo a nossa
volta. Esse não é um texto de reflexão, acreditem. E, por mais que esteja cheio
de metalinguagens, não é um texto sobre textos, tampouco sobre palavras. Também
não é um texto sobre mim, apesar do meu evidente egocentrismo muita das vezes.
Ainda não sei do que se trata. Malditas sinapses. Malditos pensamentos
inquietos. Malditas palavras que não se contentam com a metafísica. Ou
benditas. Em contrapartida com a significação da palavra “vida”, sabemos muito
bem conceituar a autoconsciência humana, ou pelo menos tentamos. Mas será que a
entendemos fundamentalmente? Creio que não. Somos capazes de falar, de pensar,
de escrever, navegar, criar armas, construir satélites e de simular o big bang,
somos capazes de refletir sobre a nossa própria existência, somos capazes de
sair da Terra, de cultivar alimentos e criar clones, somos capazes de formular
ideologias, de girar nosso mundo em torno de cédulas de papel, de extrair tal papel
de árvores e de gerar energia, somos capazes de voar, somos capazes até de
criar uma rede de comunicação totalmente invisível a olho nu, somos capazes de
educar, de aprender, de reciclar, de ajudar. Mas será que, ao acreditarmos que
somente nós somos capazes de tudo isso, não estaríamos alimentando nossa
prepotência, arrogância e egocentrismo? Não me parece justo. Só enaltecemos a
nós mesmos e deixamos de lado nossos pontos negativos. Nos colocamos acima de
outros animais, mesmo que nós tenhamos aparecido aqui na Terra depois da
maioria deles. Nos colocamos como donos do mundo e nos esquecemos de que o
mundo é o lar de todos os seres que aqui vivem, desde bactérias até um macaco.
Não me parece justo ignorar o fato de que fazemos guerra, destruímos uns aos
outros, matamos pessoas por dinheiro, desmatamos florestas por dinheiro,
criamos animais para o abate pura e simplesmente por dinheiro, destruímos todos
os dias a camada de ozônio por dinheiro, poluímos ambientes aquáticos e
terrestres por descaso ou por dinheiro, desviamos cursos hídricos por dinheiro,
extinguimos espécies direta ou indiretamente por dinheiro, vivemos dinheiro,
respiramos dinheiro, fazemos tudo por dinheiro. Somos seres dotados de
inteligência e autoconsciência, mas de que adianta sermos tão espetaculares se
usamos tais qualidades para a destruição e catástrofe? Apesar de ser amante da
natureza e dos animais, não estou me posicionando de forma a parecer que odeio
seres humanos, até porque faço parte desse grupo e não estaria escrevendo esse
texto se não fizesse. O fato é que qualquer pessoa em seu pleno estado de
sanidade mental consegue enxergar o quanto desperdiçamos nossa capacidade. Eu
sempre reclamei dos meus pensamentos por serem demasiadamente exagerados em sua
quantidade, como você pode notar no início desse texto. Mas depois que eu
descobri o prazer de aprender e de exercitar minha inteligência, passei a
gostar mais ainda do mundo em que vivo e do conhecimento. Temo o fim da nossa
espécie, e por isso escrevo, visto que este é um trabalho de formiguinha.
Inclusive, admiro muito as formigas por sua organização, força de trabalho, capacidade
de sobrevivência e hierarquia saudável. Mas voltando ao ponto da extinção,
sabemos que nosso planeta percorreu um longo e árduo caminho de 4,5 bilhões de
anos até, por algum motivo, abrigar vida inteligente. E nós, fazendo parte
desse grupo de seres especiais, nos destruímos e destruímos a nossa casa
celeste todos os dias. Não me parece justo com a Terra. E, se formos extintos,
quanto tempo irá demorar para que o nosso planeta gere vida inteligente
novamente? Quanto tempo a possível futura civilização primitiva demorará até
chegar em cabos de fibra óptica e acelerador de partículas? Ou, adotando uma
visão mais pessimista, será que a Terra conseguirá mesmo abrigar esse tipo de
vida futura se a nossa extinção virar realidade? Não temos como saber. Mas
podemos, e devemos, evitar que essa catástrofe aconteça. Poderia ser fácil.
Poderíamos acordar amanhã com a notícia de que o mundo está em paz, que as
religiões se respeitam, que as ideologias não entram em conflito, que o
dinheiro será distribuído igualmente para todos e que não há motivos para
entrar em guerra pois todos os seres se amam e convivem em harmonia. Poderia
ser assim, mas não é. Por algum motivo, nossa racionalidade fomenta o ódio e a
intolerância por pensamentos divergentes dos nossos. Ao passo que nos colocamos
acima de outros animais, e até de outros de nossa espécie, eles nos mostram o
quanto somos inferiores. Aliás, nós nem nos consideramos como animais. Pura
vaidade. Somos sim animais, evoluímos de ancestrais parecidos, senão os mesmos,
que os deles. E mais, somos igualmente evoluídos. Então por que nos colocamos
acima? O fato de nosso cérebro ser seis vezes maior do que o esperado para a
nossa massa corporal nos dá mesmo o direito de acharmos que somos donos do
mundo? Será mesmo que isso é suficiente para acreditar que o universo surgiu
para atender às nossas necessidades? Não é muita prepotência de nossa parte? Os
animais “irracionais” não falam, não constroem aviões, não escrevem, não se
comunicam via internet e nem sequer pensam o porquê de estarem vivos. Mas eles
fazem guerra? Eles matam uns aos outros por futilidades? Na verdade, eles
sequer matam outros da mesma espécie a não ser por questão de sobrevivência.
Será que somos mesmo melhores? Do ponto de vista metabólico, a complexidade da
célula de uma árvore é maior do que a sua, e ainda assim você se acha no
direito de derrubá-la só por ter autoconsciência? Que autoconsciência é essa?
Aliás, você sabe definir autoconsciência? Sim, você sabe. Você sabe definir
para mentir para si mesmo dizendo que pode fazer o que quiser porque a possui e
as outras espécies não. Você aprende conceitos para justificar o que, no fundo,
você sabe que fere seus instintos. Sim, você tem instintos. Você é um animal
como qualquer outro. A diferença é que você não se aceita como um, e só não se
aceita porque não olha ao seu redor. Posso parecer uma pessoa com visão utópica
das coisas, mas quando vejo o mundo eu não imagino pôneis cor-de-rosa ou
árvores de brigadeiro, e sim uma natureza extremamente magnífica e verdadeira.
Me sinto parte da natureza, afinal, somos parte dela. Somos apenas mais um
capítulo desse grande livro chamado Vida. Talvez sejamos o clímax dessa
história, pois podemos decidir se o futuro dela será um final próximo e
doloroso ou se ela não terá fim e perpetuará pela eternidade do universo.
Utilizei tal metáfora porque geralmente essa figura de linguagem, pelo menos
para mim, torna o entendimento mais fácil e me inspira. Espero que de alguma
forma, se você leu esse texto até aqui, esses pensamentos te invadam de forma a
acrescentar um desejo de olhar para os lados e de diminuir a vaidade quase que
natural da nossa espécie. Não sei você, mas eu nasci em uma geração promissora.
Uma geração que mostra-se essencial para a decisão do futuro da vida na Terra.
Precisamos, mais do que nunca, fazer a nossa parte, como fazem as formigas.
Porque as formigas, bem como os outros animais, não têm culpa da autodestruição
diária que o ser humano promove. Essa geração tem mais do que uma “missão”. Ela
tem o dever de garantir a perpetuação da vida inteligente nesse planeta. Uma
vez li que somos a “consciência cósmica”. Isso significa que, até onde sabemos,
nosso universo é composto por bilhões de galáxias com centenas de bilhões de
estrelas, eu me arriscaria em dizer até que existe mais de um universo. Mas
continuando, em uma dessas galáxias existe uma estrela chamada Sol em que
orbita nosso querido e vital planeta Terra. Diante de toda a evolução de nosso
planeta e da vida, somos os únicos em 4,5 bilhões de anos a ter a tal
autoconsciência que citei. Além dessa autoconsciência, possuímos consciência do
cosmos. Sabemos, através de nossas ferramentas, que não somos o centro do
universo. Ademais, sabemos ainda que não existe centro do universo. E mesmo
assim insistimos em achar que somos tal. Em vista disso, somos os únicos seres,
dentro dos limites de nosso conhecimento extraterrestre, capazes de compreender
as coisas que acontecem a nossa volta. E é por isso que devemos preservar a
nossa casa celeste, é por isso que não podemos perder tempo com guerras
inúteis, é por isso que devemos cuidar de nossos recursos naturais, e devemos
também aprender a olhar os outros animais como nossos semelhantes. Se nós
formos extintos, não haverá mais a “consciência cósmica”, e tudo o que existe
até então apenas existirá. Encontrei o propósito desse texto. No começo dele,
perguntei ao leitor se saberia definir a palavra “vida”. Muitos tentam definir
através de conceitos biológicos, outros se baseiam na religiosidade, outros
através da filosofia e assim por diante. A autoconsciência promove isso. Ela
faz com que nós procuremos respostas para tudo e faz também com que tenhamos a
vontade de entender o porquê de estarmos aqui e até de entender a própria
autoconsciência. Compreender o significado de “vida” é o primeiro passo para
isso. Eu, com minha pouca idade e experiências em número insignificante, arriscaria
a definir vida como “algo verdadeiramente extraordinário e sem definição, porém
com existência de importância imensurável”. A vida é um fato. Um fato que
precisa ser preservado. Não há nada mais belo neste universo do que a vida. Não deixe essa história ter fim.
Referências/inspirações
Criação Imperfeita- Marcelo Gleiser
A Grande História da Evolução- Richard Dawkins
Vídeo:
Dance monkeys dance
Vídeo: Sim, somos todos macacos
Nota de apresentação
Caro leitor,
Essa é minha primeira experiência com um blog e espero que
seja promissora. Por ser amadora no assunto, peço que me perdoe caso eu não
faça apontamentos esperados. Através da descrição do blog, torna-se clara a minha inciativa. Gostaria de elucidar o fato de que os assuntos aqui comentados serão baseados unica e exclusivamente em
meus pensamentos. É claro que possuo minhas influências, inclusive vale ressaltar que
nenhum texto é original, tendo em vista que todo o raciocínio que fazemos provém de algo
que experimentamos no mundo exterior. Mas mesmo tendo influências e referências
–vou procurar deixá-las ao final de meus textos- eu sempre procurarei citar
aqui meus pensamentos mais profundos sobre determinado assunto. Lembrando que
são MEUS e, por isso, podem entrar em conflito com as ideias de muitas pessoas. Dessa forma, ao ler minhas publicações, leve em conta que sou apenas uma jovem
buscando respostas, e não uma profissional especializada em determinado assunto.
Espero que goste, se identifique, ou então critique para que eu possa melhorar nas posteriores publicações. Até
a próxima!
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